Tive marido, filho, amigos lá no interior
Quem os tirou de mim há de pagar, meu senhor!
Fingir que não me viu não diminui a minha dor
A indiferença da sua gente só aumenta o rancor
Não mude a calçada, não vire a cara, você me vê, irmão!
Sou uma flagelada, largada orando por compaixão
Camburão, camburão
Lá vem o, lá vem o, é o camburão
Camburão, camburão
Lá vem o, lá vem o, é o camburão
Tive emprego, casa, família, hoje eu mal tenho nome
A caridade paga pinga, ela sim tem sobrenome
Todo dia eu morro um pouco enquanto eu tento viver
Vou fumando a desgraça até que pare de doer
Não corra pra escada enquanto a polícia tá me descendo a mão
Teu silêncio me agride, embora você ache que não
Camburão, camburão, lá vem o, lá vem o, é o camburão
Gela, congela, o papelão esfacela
Eu fujo do vento, procuro um canto logo depois da viela
Dia amanhece, comerciante emputece
Vaza daqui, o preta, que logo os homi desce
Camburão, camburão
Lá vem o, lá vem o, é o camburão
Camburão, camburão
Lá vem o, lá vem o, é o camburão